E eis que Rocinante completa uma nova missão!
Com equipe ampliada, maturando antigas propostas e abrindo novos caminhos, chegamos a um segundo número, cientes de que o percurso rumo a uma identidade bem consolidada é longo, mas também rico e prazeroso.
E é justamente o entusiasmo cinéfilo que nos guia o responsável por termos eleito o cinema da Boca do Lixo como tema central da corrente edição. Possuindo como representantes autores tão distintos quanto Carlos Reichenbach, José Mojica Marins, Jean Garrett, Claudio Cunha, Adriano Stuart, John Doo, Francisco Cavalcati e Fauzi Mansur, o cinema da Boca, ainda menos analisado do que merece, destaca-se como um estranho e fascinante arquipélago em meio ao oceano de produções cinematográficas brasileiras. A um só tempo populares e experimentais, coniventes e radicais, extremamente inventivas e, sob diversos aspectos, formulaicas, as obras produzidas na famosa região boêmia de São Paulo ao longo de, sobretudo, a década de 70, são impressionantes exemplos de inventividade. Por seu conjunto, ecos godardianos se cruzam à ética e motivos exploitation, enquanto gêneros clássicos são homenageados e antropofagicamente subvertidos.
Em nossa sessão Temáticos, críticas de cinco grandes filmes do período (A Força dos Sentidos, de Garrett, Ritual dos Sádicos, de Mojica, A Noite do Desejo, de Mansur, Lilian M: Relatório Confidencial, de Reichenbach e Palácio de Vênus, de Ody Fraga) dividem espaço com três ensaios, dedicados ao exame da relação entre os cineastas da Boca e a censura, das representações do feminino na obra de Garrett e de particularidades do subgênero a que se convencionou chamar de “pornochanchada”.
Para além de tais textos, apresentamos também críticas de lançamentos que traçam um panorama do que, atualmente, de mais interessante se encontra disponível nas salas de exibição brasileiras: dos novos filmes de Woody Allen e Pedro Almodóvar a Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert; do tocante As Montanhas se Separam, de Jia Zhang-Ke ao divertido blockbuster americano Dois Caras Legais; do último Hong Sang-Soo ao último Sokurov.
Finalmente, na sessão Livres, uma crítica de Assuntina das Amérikas, dirigido pelo autor carioca Luiz Rosemberg Filho, estabelece diálogo com três ensaios (dotados de naturezas bastante diversas) relacionados a aspectos das obras do documentarista Thom Andersen e das diretoras Naomi Kawase e Helena Ignez – a eterna mulher de todos!
A família cresce, os interesses se ampliam e as reflexões se desdobram. Completamos uma segunda etapa.
Fábio Feldman