Assistimos aos filmes de Kira Muratova pela primeira vez no Indie Festival, em 2015. Devido à retrospectiva programada por Aaron Cutler, fomos transportados a um universo cinematográfico estrondoso, que não se assemelhava a nada que já tínhamos visto. Possuindo um enorme rigor formal, a obra da autora ucraniana enseja voos imaginativos insuspeitos, revelando o brilhantismo de uma artista em total controle de seu ofício.
Dito isso, no Brasil, os filmes da cineasta ainda não receberam a atenção que merecem, haja vista a escassez de textos dedicados a analisá-los. Considerando essa imperdoável lacuna, publicamos aqui um dossiê composto por sete críticas e um ensaio, com o intuito de investigar cuidadosamente uma parcela significativa das criações de Muratova. Para tanto, escolhemos longas-metragens realizados em diferentes décadas, desde os mais renomados àqueles que pouca gente teve acesso. Nossa esperança é que a autora passe a repercutir cada vez mais no horizonte cinéfilo de agora em diante. Vida longa à sua obra!
Este volume também traz impressões sobre filmes lançados em circuito comercial ou em streaming nesses últimos meses. Roma (2018), de Alfonso Cuarón, é observado por Filipe Schettini, que faz sua primeira colaboração para a revista. Já Verão (2018), filme russo dirigido por Kirill Serebrennikov, é examinado por Maria Eduarda Gambogi. Além disso, quatro filmes americanos marcam presença neste número: A Balada de Buster Scruggs (2018), dos Irmãos Coen, é analisado com esmero por Odorico Leal; Infiltrado na Klan (2018), de Spike Lee, desperta questões sociais percebidas por Leandro Afonso; Primeiro Homem (2018), de Damien Chazelle, recebe crítica de Daniel Rodriguez; e Halloween (2018), de David Gordon Green, é estudado por Letícia Badan. Finalmente, lúdico e político, o português A Fábrica de Nada (2017) instigou Larissa Muniz a escrever um apaixonado ensaio.
A seção Livres conta com texto sobre A Loucura de Almayer (2011), de Chantal Akerman, também assinado por Larissa, e uma entrevista com Eduardo Souza, documentarista autor de Olhos D’Água – Da Lanterna Mágica ao Cinematographo (2015). Finalmente, Thomas Lopes Whyte oferece uma detalhada cobertura do 51º Festival de Cinema de Brasília, evento que consagrou o filme Temporada (2018), de André Novais Oliveira.
Fábio Feldman e Roberto Cotta