Exotica, Erotica, Etc. (2015), de Evangelia Kranioti

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Um amor que (não) se perde

Bruno Greco

Graças ao repertório adquirido em sua trajetória como artista visual, Evangelia Kranioti (que também assina a fotografia do filme) é capaz de criar, por meio de uma paleta de cores vasta e bem definida, uma representação pictórica do real. Exotica, Erotica, Etc. (2015) divide-se em três partes, simbolizando a chegada, estadia e partida de um navio em um porto na Grécia, mais especificamente em seus prostíbulos. Os belíssimos planos de um navio completamente vermelhos e misturam a relatos – predominantemente masculinos – sobre relações amorosas, saudade, finitude e o quanto tudo isso se intensifica na vida em alto mar. Há apenas uma voz feminina: a de Sandy. Ela surge em quadro vestida por completo de azul e com o mar ao fundo, contrastando imageticamente com os planos que predominavam até então. Apesar de falarem sobre o mesmo tema, Sandy, sempre sedutora e performática, fala com mais ternura que aqueles marujos. Seu relato parece um poema. Já de início nos avisa “não conseguiria ser atriz, pois, depois de tudo que vivi, só consigo falar pelo coração”. O ponto de vista desse “primeiro ato” continua sendo, entretanto, masculino. Evangelia aproveita- se, em seguida, de tons esverdeados de outros navios para retratar momentos de descontração de marinheiros. Um registro destaca-se: ao som de “Dancing Queen”, marujos, completamente alcoolizados, dançam, cantam e se abraçam. O verde cria uma espécie de “paraíso artificial”. Uma fuga desses homens do mundo real. O barco ancora.

Rosa. Sandy, até então misteriosa, se torna protagonista. Ela se despe – literal e metaforicamente – e se revela uma ex-prostituta deste porto na Grécia. Em um quarto predominantemente cor de rosa, relata sobre essa fase de sua vida. Maravilha-se. Pune-se. Deleita-se. Denuncia. Mas “não se arrepende jamais”.  E completa: “marinheiros são como terroristas. Eles chegam nos portos e jogam essa bomba chamada amor. E sabe o que acontece? Ela explode quando eles vão embora pra nunca mais voltar, destruindo os corações de todas as garotas da região…” Sandy é colocada em uma posição quase mitológica. Algo similar à sereia da Odisseia. Ao se despir completamente revela as marcas deixadas por sua profissão. Não se tratam de cicatrizes ou machucados. Ela se refere a elas como tumores, causados por esses amores efêmeros. Marcas que se formaram ao se dar conta de que “mulheres são destinadas a ser pegas e depois deixadas de lado”.Completamente nua, nossa heroína se compara a uma gazela. Os marinheiros, nessa analogia, seriam cães.

O barco parte. O verde predomina mais uma vez, mas agora o “Dancing Queen” foi substituído por uma missa em alto mar. Uma forma desses marinheiros apagarem suas próprias marcas. Como brincou nossa heroína ao longo do filme: “nesse jogo, quem lucra mais são os joalheiros, tamanho é o número de alianças esquecidas pra trás”.