Fábio Feldman e Roberto Cotta
A 24ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes foi realizada sob condição diferente de todas as outras. Em razão da pandemia provocada pelo coronavírus, esta é a primeira vez em que o evento não teve, vejam só, a cidade de Tiradentes. É claro que uma ou outra ação foi promovida no histórico município mineiro, mas o grosso da programação foi transportado, de forma inédita, para o espaço virtual.
Acostumados à constante troca durante os oito dias de festival, convidados e público tiveram que se adaptar ao novo formato, sem sessões na praça e na tenda ou debates no Yves Alves. Quase todos os filmes ficaram em cartaz entre 23 a 30 de janeiro. Contudo, exceções como os filmes da Aurora e da Foco tiveram menos tempo de visualização, pois entravam numa determinada data e saíam do ar 48 horas depois.
Com a temática “Vertentes da Criação” servindo como baliza, o festival intentou priorizar a diversidade criativa na composição de suas mostras. Se nos últimos anos era comum notar tendências muito específicas do cinema brasileiro contemporâneo, com destaque para o hibridismo entre documentário e ficção, dessa vez o cardápio trouxe aspectos muito mais amplos. Sempre foi raro, por exemplo, ver filmes experimentais como Oráculo (2020), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn, na Aurora. Ou então, uma leva tão grande de curtas atravessados pela inventividade formal, como alguns exibidos na Foco, Panorama, Jovem e Formação. Veio a calhar também a homenagem à cineasta Paula Gaitán, uma das mais importantes realizadoras brasileiras das últimas três décadas, cujos filmes foram disponibilizados em caráter especial, destacando-se a obra-prima Luz nos Trópicos (2020) e o média-metragem Ostinato (2021), este exibido na abertura do evento.
A cobertura da Rocinante em 2021 também foi diferente das coberturas executadas nos anos anteriores. Com a modalidade virtual, tivemos a oportunidade de reunir uma equipe maior para escrever sobre um volume considerável de filmes. Resolvemos, então, publicar escritos panorâmicos dedicados a algumas das principais mostras. Roberto Cotta dirigiu sua atenção à Aurora, competitiva de longas-metragens para cineastas estreantes. Já a Foco, competitiva de curtas-metragens, recebeu as análises de Rubens Fabricio Anzolin em sua estreia na revista. A Olhos Livres, competitiva de longas avaliada pelo Júri Jovem, foi examinada por Letícia Badan. Alguns dos curtas da Panorama e da Praça foram esquadrinhados por Douglas König de Oliveira. Os filmes de horror da Sessão da Meia-noite ganharam a distinção da especialista Beatriz Saldanha. E a Vertentes da Criação, mostra temática do evento, foi analisada por Lea Monteiro, também marcando a estreia de suas colaborações.
Apesar de muitas benesses promovidas pela modalidade virtual, esperamos voltar ano que vem vacinados à tenda, à praça, ao Yves Alves e a toda comunhão de consensos e dissensos que a Mostra de Cinema de Tiradentes sempre proporciona. Que os festivais presenciais possam ser preservados, apesar de todos os pesares.